Pisando em ovos

Nelson, caucasiano, trinta e seis anos, cabelos castanhos, unhas encardidas, joanete no pé esquerdo, cicatriz no joelho, tigre tatuado nas costas, diagnosticado com preapismo, seis graus de miopia, rachaduras no calcanhar, tricolor, formado em engenharia elétrica, fumante, baixista de uma banda de MPB, dois filhos, dois rins, dois buracos no nariz, dois testículos, um pênis pequeno, divorciado, amigo dos animais, tijucano, salgueirense, bom motorista, bom pai, bom filho, bom tio, péssimo jogador de futebol, cabeçudo, tímido, viciado em chocolate, desatento, pisou na merda.

Resposta à quarta-feira

Não entendendo o preconceito com o tal discriminado dia do meio da semana. Eu adoro as quartas e por isso deixo aqui alguns excelentes motivos pra você gostar também: às quartas o cinema é mais barato (o dia inteirinho!); tem feira aqui pertinho; foi o dia da minha formatura; à noite tem futebol, mas talvez seja melhor nem tocar neste assunto este ano. Que legal se hoje fosse quarta, assim seria também o dia da minha re-estréia (com hífen segundo o novo acordo ortográfico) no PU! Eu só não gosto da segunda. Creio que outros vascaínos também.

Segundo parágrafo

.Não

Primeiro parágrafo

Eu te amo você é tudo para mim eu não sei viver sem você quero ficar do seu lado para sempre se não for com você não serei feliz su sem você sou ninguém você me completa nós nascemos para sermos um só eu quero envelhecer ao seu lado eu preciso de você você me faz bem eu sou apaixonado por você eu quero você cada dia mais você é meu chão não posso mais ficar sem você você é o meu porto seguro te amo do fundo do meu coração não quero me separar nunca mais de você volta pra mim preciso de um segundo parágrafo para você me dar uma resposta volta pra mim volta pra mim posso eperar por um segundo parágrafo eu me ajoelho olha só fico de joelhos mas volta pra mim me responde em um segundo parágrafo que eu espero fico aqui te esperando prometo não quero mais ninguém ninguém ninguém ninguém mesmo de verdade eu só quero você só sei amar você você sabe disso eu já disse que você está linda hoje que você está maravilhosa que eu não consigo tirar você da cabeça nem por um minuto não consigo não posso é mais forte do que eu porque eu te amo tanto tanto mas tanto que chega a doer aqui dentro eu sou completamente louco por você louco mesmo e você é a minha cura o meu remédio o nosso amor é o nosso remédio eu posso sentir que você ainda gosta de mim de repente até me ama mas está faltando o quê volta pra mim o que está faltando pra eu te ter novamente nos meus braços e quando você voltar para os meus braços eu nunca mais vou deixar você sair daqui vou te proteger ser o seu porto seguro também prometo que vou mudar eu vou mudar para fazer você a mulher mais feliz do mundo a mais feliz do mundo inteiro não vai ter mulher nesse planeta mais feliz do que você porque só o amor verdadeiro pode fazer isso vamos constituir famílias eu quero ter um casal eu sei que você quer também a gente compra aquela casinha e podemos criar os nossos filhos com muito amor muito mesmo imagina eles pequenos correndo pela casa fazendo a maior bagunça e a gente como uma família unida e feliz a gente vai atravessar todas as dificuldades porque quando se tem amor o resto é moleza de ultapassar o importante mesmo é o amor que a gente tem um pelo o outro eu te amo demais o que mais eu preciso fazer para demonstrar esse amor lindo que eu sinto por você ah eu tenho vontade de gritar para todo mundo ouvir que eu te amo demais como nunca vou amar outra pessoa agora eu preciso da resposta ok responde em um segundo parágrafo

Catarina

Catarina trabalha no caixa de um banco. Suja as pontas dos dedos ao manusear dinheiro. Escuta os lamentos das pessoas que pagam impostos, contas, multas. Pessoas que fazem depósitos e transferências. Catarina, não parece, mas vai à praia. Tem uma fina marca de biquíni nos ombros à mostra pela gola larga. Escuta impropérios, nomes feios, palavras de baixo calão. Por causa de fila, erros e desentendimentos, Catarina se estressa com o estresse dos outros. Porém, mantém o cabelo preso em um coque simples, que deixa uma mecha cair sobre o flanco de um dos olhos castanhos escuros. Catarina, não parece, mas usa maquiagem quando sai à noite. E respira fundo, conta até 10, tenta organizar o atendimento. Catarina sorri amarelo, de escárnio, vez em quando de sarcasmo. Catarina não sabe, mas poderia desarmar o rancor alheio. Catarina, não parece, ou parece não ter certeza, mas tem seu charme.

Quarta-feira

Hoje é quarta-feira, o dia mais "whatever" que existe. Reparem, não há músicas para a quarta-feira. Ninguém se casa na quarta-feira. Ninguém faz sexo na quarta-feira. Ninguém nem reclama da quarta-feira. Na quarta-feira você já trabalhou dois dias e ainda faltam mais dois para o fim de semana. Você não está nem lá, nem cá. Nem ansioso, nem cansado. E hoje, meus caros, é quarta-feira.

20 Anos

Ontem, fez exatamente 20 anos que o Mega Drive foi lançado. Me lembro como se fosse hoje da primeira vez em que joguei. Era o Golden Axe. Até então, só tinha jogado Atari e olhe lá. O Mega Drive era a sensação do momento. Os jogos que eu mais gostava eram Toe Jam & Earl, Kid Chameleon e Super Monaco GP2, aquele que tinha o Ayrton Senna. E por falar nisso, exatamente hoje, faz 20 anos que o piloto brasileiro ganhou o primeiro Mundial de Pilotos quando corria pela McLaren. Interessante, não?

Tudo atrasado...

Como é que pode? Não estou conseguindo mais cumprir um prazo! Será que a culpa é minha, que não me mato de trabalhar, atravesso noites na frente do computador, sábados, domingos inteiros, para cumpri com o maldito prazo, ou são os outros que trabalham demais, ou é a vida maluca que está nos transformando em máquinas, injetando em todos o virus da verdadeira doença do século, transformando a todos em "workaholik's", conformados em não ter mais tempo para as coisas que realmente nos fazem felizes... Olha que eu desisto, heim! Vou pro sítio plantar repolho...

Venda sob prescrição médica

Nos conhecemos ali mesmo, no corredor do hospital. Eu, pressão alta. Ela, pressão baixa. Eu, alguns comprimidos de anfetamina. Ela, dois copos de chá de trombeta. Eu, soro fisiológico na veia. Ela, dedo na garganta. Eu, histórico de dependentes químicos na família. Ela, mãe e pai diabéticos. Eu, alergia a paracetamol. Ela, intolerância a iodo. Eu, tantando celebrar a alegria. Ela, tentando se livrar da tristeza. Eu, por cima. Ela, por baixo. E nós dois gozando juntos.

Malditas árvores

Tenho 29 anos, quase trinta! Duas mulheres lindas, uma que ganhei de presente do destino e outra que eu mesmo fiz. Já plantei uma árvore, talvez duas ou três, não me lembro ao certo. O fato é que ainda não escrevi um livro e não vou escrever nunca. Não quero morrer! Não por enquanto. Se eu completar o ciclo minha vida estará por um fio. Se ao menos soubesse disso antes não teria plantado aquelas malditas árvores.

Tô doente.

Odeio ficar doente. Odeio, odeio! E quando é o tipo de doença que me deixa de molho na cama e me faz pensar, pior ainda. POrque aí eu começo a raciocinar e concluo que tô doente fisicamente, mas que a causa, de longe, é o stress. Isso acaba com meu humor, mais do que os sintomas da doença em si.

Coma os legumes!

Quando o Velho do Saco levou o meu primo para longe, porque ele não havia comido o brócolis cozido, a meninada ficou em estado de choque. Contou minha mãe que isso era mais normal do que eu pensava. E que o mesmo velhaco também era quem guiava a kombi que pega criança. Meu primo faltou três dias na escola. Quando voltou, estava calado, melancólico, absorto. E com o olho direito roxo, cheio de marcas nos braços e nas pernas. Foi o Velho do Saco - repetia. Foi o Velho do Saco.

A imponente máquina de Xerox

É incrível como em qualquer grupo sempre tem alguém (ou algo) imponente. Por exemplo: no grupo animal, o elefante é o imponente entre os outros; no grupo de humanos, o homem mais imponente do mundo é o imponente entre os outros; e no grupo da tecnologia não é diferente. Quando foi lançado, o computador era gigantesco. Hoje, é uma máquina que cabe no bolso. O celular, há uns dez anos mal cabia na palma da mão. Hoje cabem cinco. Já a máquina de Xerox, não. Ela continua lá, imponente como sempre. Desde que foi criada, é um trambolhão gigantesco que vive a soltar papéis iguais. É isso aí, máquina de Xerox. Nós te amamos!

Pesque-e-pague

Tem bem ali um pesque-e-pague, bem ali, onde eu pesco e pago. Não só pesco e pago, mas pesco e só depois pago, ali, no caixa do pesque-e-pague, onde limpam, picam e fritam o peixa que eu pesquei e ainda não paguei, e depois, sentado, eu como o peixe frito que pesquei tomando uma gelada que ainda não paguei. Vejam só: tudo isso bem ali, pertinho, no pesque-e-pague! Ô, modernidade...

Em casa, com diarista

Hoje cheguei em casa e tava tudo tão limpo que até deu gosto. Uma pequena vitória, poder contar de novo com a diarista. Prazer, essa sou eu: Gabi, publicitária, cozinheira, mãe de gatos, eterna namorada do Eric, fã de quadrinhos, séries e filmes nerds, ex-rpgista, leitora voraz, ávida corinthiana, 31 anos, formada em uma faculdade e meia. E feliz por poder contratar a diarista de novo, nem que seja a cada 15 dias.

Segunda-ista...

A gente acaba tendo que escutar coisa do tipo: - Sou comunista, socialista, abaixo o imperialismo, o colonialismo, os oligopólios, não a Nike, Coca-cola, ao Mac, Fora Bush e FMI, avante mulheres do Haiti, escambau de bico... - mas, entre uma trovoada dessas e outra: Garçon, mais uma Skol, por favor...

De noite

Preciso desesperadamente fechar meus olhos, me desligar e dormir, mas não consigo. Meu corpo implora por algumas horas de sono, mas meu cérebro se recusa a cooperar. Passei o dia com o olhar perdido, quase como um zumbi. Está tudo atrasado. Milhões de coisas por fazer. Trabalho de inglês, trabalho de faculdade, provas, blog, freelas, compromissos no escritório, contas... Que barulho agudo é esse? Ah sim, voltemos ao trabalho.

De dia

Preciso desesperadamente manter minhas pálpebras abertas, mas não consigo. A cada dois ou três minutos ela me vence e permanece fechada por alguns segundos. Ah, que segundos maravilhosos! Uma sensação boa invade meu corpo. Queria deitar e dormir por horas seguidas, mas um solavanco brusco me traz de volta ao mundo dos vivos. Onde é que eu estava mesmo? Ah sim, voltemos ao trabalho.

O bom ladrão...

"Hoje mesmo estarás comigo no paraíso" é frase manjada da semana santa, e alguém já parou pra pensar que o bom ladrão teve que esperar um monte, já que Jesus só ressuscitou ao terceiro dia?

Melhores menores

Seremos menores, mas melhores. Repudiaremos qualquer espécie de ditadura da beleza. Negaremos os rótulos. Execraremos os estereótipos. Pintaremos nossos cabelos, nossas peles e nossas paredes, para sempre. Provaremos drogas e teremos que aprender a lidar com o alcoolismo de nossos progenitores. Leremos os livros que foram proibidos às gerações passadas. Não gostaremos de discutir política, apesar de sermos socialistas. Seremos ateus, graças a deus e aos seus asseclas divinos. Meditaremos após uma noite de sexo selvagem e desregrado. Tomaremos comprimidos para curar nossas dores de cabeça. Visitaremos terapeutas para curarmos nossas dores de cabeça. Fumaremos um maço de cigarro e teremos medo de tirar uma chapa dos pulmões, o esquerdo, o direito. Não nos deixei cair em tentação, mas não livrai-nos de todo e qualquer mal. Colocaremos o trabalho em primeiro lugar, a fim de darmos uma vida melhor a quem amamos. Faremos de conta que nos importamos com o meio ambiente, comeremos grama, evitaremos carne vermelha e pediremos refrigerante dietético em lanchonetes fast food. Jogaremos na loteria e teremos pena daqueles que mantém seus vícios. Estaremos do lado da verdade que parecer ser a mais convincente, para evitar a injustiça, doa a quem doer. Odiaremos o maldito sensacionalismo enquanto orarmos diante da TV ligada na hora do jantar. Seremos menores, mas melhores.

Inesperada atividade

A inesperada atividade despertou meus sentidos. Todos à minha volta estão deitados, quase mortos, inertes e silenciosos. Apenas aquela figura vulgar se mantém cambaleante. Acabou de digitar um parágrafo, depois de meses hibernando. A perspectiva de uma retomada criativa me dá forças para levantar também. Quero acordar os outros, mas não tenho voz. Está tudo escuro. Me dirijo para a tela acesa no meio do éter que nos encontramos e digito algumas palavras sem sentido. Mais um parágrafo. Mais um vulto cambaleante. Menos um corpo perdido do vácuo criativo.

Cir/cu/s

Desde o dia em que virei engolidor de fogo eu não durmo mais em paz. Sonho com icebergs, uísque com gelo, olimpíadas de inverno, ar-condicionado de shopping center, parede de granito, frigorífico de açougue, Halls preta, dias nublados, baldes de água fria, Gelol e você, minha esposa e trapezista, desequilibrada, montada em cima de mim, fingindo mais um orgasmo.